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Apresentação e elogio do Senhor Rui Nabeiro na cerimónia de outorga do grau de Doutor Honoris Causa

November 22, 2006

Apresentação e elogio do Senhor Rui Nabeiro na cerimónia de outorga do grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora
Laudatio pelo Dr. Jorge Sampaio

Universidade de Évora
22 de Novembro de 2006

 

 

 

Magnífico Reitor da Universidade de Évora

Senhores Professores Doutores

Senhores Professores

Senhores Alunos

Ilustres Convidados

Minhas Senhoras e Meus Senhores

 

 

Foi com particular prazer que aceitei o convite do Magnífico Reitor da Universidade de Évora para fazer o elogio e de patrocinar o doutoramentoHonoris Causa do Senhor Manuel Rui Azinhais Nabeiro.

Muito jovem – aos 13 anos de idade – começou a trabalhar no negócio familiar de torrefacção de cafés e, mercê do seu esforço e capacidade de trabalho cedo reforçou a sua posição, constituiu uma sociedade com seus tios, e assumiu a gerência da firma, com apenas 19 anos, após o falecimento de seu pai. Animado de forte espírito empreendedor e de uma vontade indomável, fundou no início da década de ’60 a sua própria empresa explorando um armazém de mercearia e uma pequena torrefacção de cafés. Introduziu, mercado de cafés, por esta altura, a marca que o tornaria famoso.

Nesta época, a par das suas actividades industriais e comerciais exerceu o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, cargo para o qual viria de novo a ser eleito após o «25 de Abril», num contínuo e persistente esforço de promoção da sua terra natal e do bem-estar das suas gentes.

A independência das antigas colónias após o 25 de Abril viria a afectar toda a actividade de torrefacção e o comércio de cafés já que o País passou de exportador a importador.

Mas foi neste momento que Rui Nabeiro revelou a sua a larga visão empresarial e poder de iniciativa, armazenando largas quantidades de café adquirido em Angola e lançando-se com ousadia numa política de internacionalização dirigida aos países com forte presença de Comunidades Portuguesas.

Tal política levou a sua empresa a penetrar em mercados altamente competitivos, quer da União Europeia, quer nos Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Angola e Moçambique. Realce para a forte penetração no mercado espanhol e, em particular, na Extremadura, onde uma das marcas de café comercializadas pela sua empresa logrou conquistar a posição de líder de mercado.

Sabendo adaptar-se às novas realidades económicas e empresariais e à evolução das actividades das suas empresas, Rui Nabeiro transferiu o sector industrial de torrefacção para uma nova empresa em meados dos anos ’80. Alargou a sua actividade para os sectores agrícola, imobiliário, serviços e hoteleiro, a par do industrial, do comércio e da distribuição. Em 1996 cria uma sociedade gestora de participações sociais para assegurar a gestão deste grupo de empresas.

Rui Nabeiro é um caso de sucesso da iniciativa individual no mundo empresarial. Com pertinácia e engenho, soube aliar a expansão comercial, à modernização e inovação tecnológica na sua perspectiva empresarial, nos processos produtivos, de comercialização e de distribuição, na área do café torrado. As suas empresas são hoje, neste ramo, das maiores torrefactoras da Europa.


 

[Inovação]

 

 


 

Os elevados méritos do Senhor Rui Nabeiro podem ainda ser avaliados, no âmbito do qual lhe é prestada a presente homenagem, pelo seu pensamento e acção no domínio da responsabilidade social das empresas.

Na verdade, Rui Nabeiro assumiu desde sempre a preocupação de encarar as suas empresas como agentes de desenvolvimento sustentável intervindo também nas dimensões social e ambiental, dando impulso e relevo à função social das empresas.

Deste modo, inseriu na sua estratégia empresarial práticas de responsabilidade social que, para além de promoveram a eficiência empresarial, foram elementos dinamizadores do desenvolvimento da comunidade.

Em 2004, reconhecendo as acções concretas neste domínio, a NOVADELTA foi a primeira empresa portuguesa a receber a certificação segundo a norma SA 8000.

Neste capítulo são ainda de realçar os projectos desenvolvidos em Timor-Leste, com o apoio à reabilitação das escolas de Gleno, Leorema e Tibar, e a campanha “Um café por Timor Lorosae“, que financiou a construção da Escola Primária Rui Nabeiro, em Fahité, no distrito de Liquiçá, que tive ocasião de visitar em Fevereiro último.

E, a tudo isto, há a juntar uma acção filantrópica, tão notável quanto discreta, apoiando diversas instituições tais como, Juntas de Freguesia, associações desportivas locais, Corporações de Bombeiros e Escolas de Ensino Especial.

Como reconhecimento do mérito da pessoa e obra de Rui Nabeiro foi o mesmo agraciado pelo Presidente da República com a Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial, classe do Mérito Industrial, com o grau de comendador, em 1996, e promovido a Grã-Cruz no início do corrente ano.

A outorga do grau de Doutor Honoris Causa é sempre uma homenagem a uma personalidade ilustre que se distinguiu pela sua personalidade, pelo seu saber e pela sua obra. Creio que ao escolher o Senhor Rui Nabeiro a Universidade de Évora cumpre o seu legado humanista, com raízes na Renascença, impregnado de uma inegável dimensão espiritual e de abertura à sociedade na qual se insere.

Com este acto e esta atribuição a Universidade de Évora reconhece também a importância decisiva das empresas no contexto nacional, como criadoras de desenvolvimento e de emprego, e da inescapável dimensão de solidariedade que deve hoje ser inseparável do desenvolvimento. Apraz-me muito estar hoje aqui no momento em que no Senhor Rui Nabeiro se reúnem as características do empresário de que Portugal precisa, e também do Homem que permanece fiel aos seus conterrâneos e às suas origens, pessoa de memória e sem rancor.

Regozijo-me, pois, pela decisão que em feliz hora a Universidade de Évora tomou no sentido de distinguir o Senhor Rui Nabeiro com o grau de Doutor Honoris Causa. Trata-se de uma distinção que honra a pessoa e obra de Rui Nabeiro, que lhe testemunha o reconhecimento desta Instituição pelo seu trabalho meritório e exemplar em prol do desenvolvimento da solidariedade e responsabilidade social no âmbito empresarial.

Tenho dito. Muito obrigado.

PORTUGAL E OS DESAFIOS DA ERA GLOBAL – CASA MUSEU JOÃO SOARES

November 21, 2006

CONFERÊNCIA

  

PELO DR. JORGE SAMPAIO,

 

NA CASA MUSEU JOÃO SOARES

 

 

PORTUGAL E OS DESAFIOS DA ERA GLOBAL –

ALGUMAS REFLEXÕES PESSOAIS

  

 

Casa Museu João Soares

Cortes

21 de  Novembro  2006

__________

Dr. Mário Soares

Ilustres convidados

Caros amigos

 

 

 

 

Ø Começo por agradecer o amável convite que o Dr. Mário Soares me dirigiu para estar aqui hoje, no décimo aniversário da criação deste lugar de memória.

 

Ø Sensibilizou-me o seu gesto e foi com prazer antecipado que aceitei associar-me até porque a ideia de estar entre amigos vale sempre como um poderoso estímulo;

 

Ø Mais do que reflexões a partilhar convosco, são algumas inquietações que vos trago.

 

Ø Sabem como, desde há muito, me têm preocupado as nossas aparentes dúvidas e hesitações colectivas quanto a assumirmos uma ambição clara de futuro e lhe darmos sentido e conteúdos práticos.

 

Ø “Portugal e os desafios da era global” pareceu-me por isso ser um bom fio condutor para tematizar esta minha inquietação até porque todos sabemos que a complexidade do tempo em que vivemos, e os problemas que continuamente nos põe, exigem mais informação, mais comunicação, mais consciência e maior compreensão.

 

Ø A introduzir o debate, abordarei sucessivamente 3 pontos:

 

o  A era global: o Estado-Nação sob pressão

o  A União Europeia e a globalização

o  Portugal na era global: 4 grandes desafios

 

 

1. A era global: o Estado Nação sob pressão

 

 

Ø Antes de mais, um ponto introdutório, mas da maior importância para marcar o meu ângulo de abordagem do tema que vos trago “Portugal e os desafios da era global”: para mim é claro que os desafios da era global são, sem dúvida, eles próprios, globais, mas também, em simultâneo, eminentemente nacionais.

 

Ø Ao contrário do que possa parecer, nada há de contraditório ou paradoxal nesta afirmação preliminar.

 

Ø Com efeito, é inegável que somos cada vez mais confrontados no dia a dia com problemas que sabemos terem origem em interconexões económicas e sociais, desenhadas no plano transnacional ou mesmo à escala global.

 

Ø Mas também é verdade que um mínimo de esforço analítico nos indica que as soluções encontradas pelos vários países para conviverem com as mudanças globais em curso são muito diversas.

 

Ø E aqui está um primeiro ponto que me parece indispensável realçar neste início de intervenção: embora o peso específico dos factores de ordem internacional que condicionam as economias, as sociedades e as identidades nacionais seja importante – e sou mesmo dos que pensam que é muito importante –, a margem de intervenção política de base nacional continua a ser decisiva para a definição dos níveis e padrões de desenvolvimento dos países e de bem estar das suas populações.

 

Ø Caso contrário, deixaria de haver uma agenda nacional propriamente dita e a democracia mesma deixaria de fazer sentido.

 

Ø Mas é verdade também que os Estados-Nação perderam o monopólio do poder que detinham e nessa medida encontram-se sob uma enorme pressão.

 

Ø Por exemplo, poucos se atreverão, hoje, a pôr em dúvida que a intensificação da concorrência em mercados internacionais abertos coloca às economias e sistemas de emprego nacionais constrangimentos muito fortes.

 

Ø E poucos serão também os que negam que daí decorrem elevados riscos económicos e sociais.

 

Ø No entanto, um mínimo de análise comparativa revela que são muito variáveis, consoante os modelos de desenvolvimento e sistemas de protecção social nacionais, os efeitos dessa hiperconcorrência.

 

Ø Nada melhor para entender esta heterogeneidade de respostas nacionais aos desafios mundiais do que pensar na diversidade de sistemas de protecção social que, sob a designação genérica de “modelo social europeu”, caracteriza o conjunto de países da União Europeia, ou mesmo do núcleo mais restrito da zona euro.

 

Ø Dizem os especialistas que neste espaço económico e social limitado e integrado coexistem pelo menos três modalidades de welfare state, isto é, três tipos distintos de respostas políticas aos desafios de desenvolvimento e de protecção social colocados a sociedades democráticas e de economia aberta de uma região do mundo com níveis de integração económica, política e cultural globalmente elevados.


 

Ø De nenhum modo subscrevo, pois, a ideia, que vem, no entanto, fazendo o seu caminho, de que, no quadro de uma globalização que se intensifica, ao complexo institucional do Estado-Nação fica reservado um papel residual e meramente simbólico no xadrez da governabilidade.

 

Ø Vou mesmo mais longe: a intervenção dos governos e instituições políticas de âmbito nacional tornou-se cada vez mais crucial, embora isto não signifique que o enquadramento não tenha mudado radicalmente, como já referi acima e desenvolverei um pouco a seguir.


 

Ø E porquê? Porque a crescente interpenetração das economias, das culturas e das sociedades, não só torna o sistema de constrangimentos das acções humanas muito mais complexo, como leva a uma multiplicação dos factores de incerteza em matéria de sustentabilidade do desenvolvimento e de efectividade de direitos sociais e de cidadania.

 

Ø A que é que me refiro concretamente?

 

Ø Refiro-me, antes de mais, às dimensões de eficiência económica: sem uma atitude pró-activa e uma visão estratégica amadurecida das instâncias de decisão política de base nacional na criação de condições infra-estruturais de apoio às actividades económico-empresariais, é duvidoso que possam ser garantidos os patamares de produtividade indispensáveis à sua sobrevivência no quadro de competitividade internacional existente.

 

Ø Mas é também por imperativos de solidariedade e de coesão social que se torna indispensável continuar a contar com o papel reformador do Estado-Nação.

 

Ø Julgo, de facto, que os Estados nacionais continuam a ser um espaço privilegiado para combater desigualdades injustas e garantir níveis mínimos de segurança e de direitos à generalidade dos cidadãos

 

Ø E isto independentemente dos avanços que possam realizar-se nesta matéria à escala supra-nacional (e a União Europeia vem caminhando, ainda que timidamente, nessa direcção).

 

Ø Por último, também no plano das identidades nacionais, parecem-me indispensáveis políticas de fomento da diversidade cultural e linguística para contrabalançar a tendência à uniformização fortemente alimentada pela globalização.

 

Ø Por exemplo, no que respeita à diversidade linguística, para além do inglês se ter tornado de facto na língua de comunicação global, políticas fortes de apoio ao bilinguismo ou mesmo plurilinguismo são altamente desejáveis e, neste contexto, a nossa língua tem potencialidades completamente desaproveitadas que deveriam ser desenvolvidas, de resto no quadro de uma estratégia concertada com os restantes países de língua oficial portuguesa.

 

*

 


2.  A União Europeia e a globalização

 

 

Ø Para mim, é óbvio que a União Europeia atravessa actualmente um período de crise – crise de resultados e crise de confiança -, que relaciono, por um lado, com o último alargamento e, por outro, com a globalização.

 

Ø De facto, a União Europeia ainda não se adaptou ao extraordinário processo de mudanças – diria mesmo mutações – que o mundo vive e que marcam a nova Era Global.

 

Ø Como ultrapassar então esta crise, relançar a construção europeia e restaurar a confiança dos cidadãos na EU?

 

Ø É aqui que entra a questão do impasse constitucional.

 

Ø A meu ver, no quadro do Tratado de Nice pode assegurar-se a gestão dos assuntos correntes, podem-se remediar problemas.

 

Ø Mas não é possível encontrar soluções sustentáveis para os inúmeros desafios com que a EU se confronta, a nível económico, a nível social, em termos de segurança e no plano político.

 

Ø  Por isso é urgente pôr termo ao período de reflexão sobre o impasse constitucional que, de resto, até agora nem sequer deu grandes frutos ou pistas.

 

Ø Na semana passada, participei num encontro em Florença do qual resultou um apelo – chamado “Apelo de Florença” – no qual se avançam algumas sugestões para desbloquear a situação.

 

Ø O ponto principal e que importa salientar, é que a solução a encontrar terá de passar, por um lado, pela preservação do acervo contido no actual Tratado Constitucional, já ratificado pela maioria dos Estados e, por outro, pela tomada em consideração das inquietações dos eleitores franceses e neerlandeses.

 

Ø Só para concretizar a forma de resolver esta espécie de quadratura do círculo, seria, por exemplo, aceitável pensar num Protocolo adicional de interpretação das matérias relacionadas com a economia social de mercado, explicitando de que forma a dimensão social deveria ser desenvolvida no quadro de uma economia de mercado regulada.

 

Ø Sublinho este ponto porque entendo que, embora a crise a que me referia há pouco – crise económica e social – se faça sentir sobretudo a nível dos Estados Nação, os problemas em causa – maus resultados económicos, desemprego, desindustrialização – revestem uma dimensão estrutural e global e reflectem por isso preocupantes sinais de vulnerabilidade do modelo de desenvolvimento comum à maior parte dos parceiros da União Europeia.


 

Ø Nesta medida, tratando-se de problemas de natureza global, não há, parece-me, soluções unilaterais nem espaço para atitudes isoladas.

 

Ø Aliás, na nossa Era Global, atitudes nacionalistas ou isoladas são o pior inimigo da Nação e dos seus interesses. Pode parecer um paradoxo, mas não é.

 

Ø Por isso, o primeiro escolho a evitar é o do reflexo proteccionista, de retraimento internacional, e o do impulso de desmantelamento do modelo social europeu.

 

Ø A meu ver, para defender os interesses nacionais importa, que a União Europeia possa, como um todo, sair da crise.

 

Ø É por isso crucial capacitar a EU para tratar dos domínios de actuação nos quais a globalização mais tem tido repercussões – emprego, segurança e protecção social.

 

Ø Ou seja, a reforma do Modelo Social Europeu é uma área chave em que a União Europeia deveria assumir responsabilidades acrescidas.

 

Ø E porque é um ponto chave?

 

Ø Porque o Modelo Social Europeu é um elemento central da identidade do projecto europeu e é um elemento fundamental das nossas sociedades que são por definição inclusivas e cimentadas pela coesão.

 

Ø Ouvimos muitas vezes perguntar se a Europa pode continuar a financiar o seu modelo social; mas, na realidade, devíamo-nos interrogar se a Europa poderá dar-se ao luxo de o dispensar.

 

Ø Pessoalmente, encontro-me entre os que pensam que o modelo social europeu, longe de ser um fardo para a economia europeia, confere-lhe vantagens comparativas.

 

Ø Mas para que assim continue a ser, perante a pressão das novas economias emergentes, é crucial que a Europa invista nas reformas da economia e do modelo social europeu, prosseguindo na linha da Agenda de Lisboa. E é igualmente importante desenvolver programas eficazes de justiça e de bem-estar social. Ora, nesta vertente, há ainda um longo caminho a percorrer.

 

Ø É por isso que a Europa tem de se preparar para a mudança. Para além das reformas económicas, a preocupação com a justiça social tem de ser passar a ser uma prioridade da agenda europeia. Mas para que tal seja possível, precisamos pois de um quadro jurídico-constitucional, de uma renovada vontade política e de uma estratégia clara.

 

 

 

 

 

 


3. Portugal na globalização: 4 grandes desafios

 

 

Ø Tentarei seguidamente aludir de forma breve a alguns traços da sociedade portuguesa que, do meu ponto de vista, continuam a colocar desafios a que importa responder com uma agenda nacional, no quadro natural dos nossos compromissos e responsabilidades europeias e internacionais.

 

Ø Na inventariação dos problemas políticos com que estamos confrontados no espaço e tempo concretos a que podemos chamar Portugal Contemporâneo, quero aqui destacar quatro pontos:

 

o  As questões da Educação/Formação e inovação empresarial

o  A questão da solidariedade e da coesão

o  As assimetrias de desenvolvimento regional

o  Uma política externa forte

 

 


Desafio 1: A necessária articulação entre as questões da Educação/Formação e da inovação empresarial

 

 

Ø Permitam-me que inicie este pequeno inventário, com uma referência ao que considero ser um dos nós fundamentais – talvez o nó fundamental – das nossas dificuldades: a articulação entre as questões da educação/formação, por um lado, e a inovação empresarial, por outro.

 

Ø O grande impulso dado nas últimas décadas à escolarização das novas gerações não pode fazer-nos esquecer outros problemas que, no domínio da educação e da formação, continuam a colocar-se à sociedade portuguesa.

 

 


Ø O primeiro diz respeito aos elevados níveis de insucesso, saída e abandono precoces que têm acompanhado o referido impulso. De acordo com os dados do Eurostat, em 2005, Portugal registava uma taxa de abandono escolar precoce de 38,6% (com taxas mais elevadas para os jovens do sexo masculino) enquanto que em Espanha é de 30,8% em Espanha e a média da Eu se situa nos 15,2%.

 

Ø Sabe-se que tais fenómenos são determinados, em muitos casos, por estratégias familiares de fuga à pobreza (por exemplo, recurso ao trabalho de menores).


 

Ø Noutros casos, insucesso e abandono estão ligados a desfasamentos e incompreensões muito acentuados entre aquisições culturais feitas no meio familiar, por um lado, e padrões culturais privilegiados pela cultura escolar, por outro. A chegada muito tardia do País à generalização da educação de base a toda a população, fazendo com que seja ainda muito baixo o nível de instrução médio das gerações menos jovens, explica em boa parte este desfasamento.

 

Ø Levar a sério a ideia de que os estabelecimentos de ensino são parte fundamental dos serviços públicos de bem estar, que, portanto, devem ser apoiados por todos os outros elos da rede de protecção social dos cidadãos (emprego, cultura, justiça, reinserção social, autarquias), é uma perspectiva que urge aprofundar.  


 

Ø Sem sair da questão educativa, passo a referir-me a um dos mais sérios bloqueamentos com que a sociedade portuguesa se confronta – o da questão da educação e formação de adultos pouco escolarizados, os quais continuam a ser uma parcela muito importante da nossa população activa. Em 2005, somente 4,6% dos adultos portugueses participam em actividades de aprendizagem ao longo da vida, enquanto na UE a taxa de participação é de 11%.

 

Ø Estamos diante de uma dívida do Portugal Democrático para consigo próprio. E se nada fizermos, a curto prazo, para, no mínimo, atenuar a sua amplitude, estou certo de que o futuro nos condenará sem apelo nem agravo.


 

Ø Já foram obtidos, por várias vezes, importantes acordos nesta matéria em sede de concertação social. Por isso, não será aceitável continuar a adiar a concretização de medidas capazes de impulsionar uma melhor articulação entre o sistema regular de ensino e o sub-sistema da formação profissional e de concretizar uma estratégia de formação e de educação ao longo da vida capaz de defender trabalhadores e empresas dos riscos impostos por uma competitividade internacional cada vez mais exigente.

 

Ø Ultimamente, tem vindo a aumentar o número de desempregados com níveis de instrução altos. Pode tratar-se de um fenómeno conjuntural, que a retoma da economia se encarregará de eliminar a curto prazo. Mas também pode constituir manifestação de alguma inadaptação ou resistência do sector empresarial à criação de condições de inserção profissional qualificantes.

 

Ø Ora, sem a necessária valorização, por parte das empresas, das competências transmitidas pelo sistema educativo e de formação, jamais será possível obter taxas de retorno aceitáveis para o investimento em “recursos humanos” realizado no País durante as últimas décadas.

 

Ø Quando se multiplicam os apelos à necessidade de o Estado apoiar a inovação tecnológica e a modernização do tecido empresarial português – e é indispensável e muito positivo que se mantenham -, será justo reconhecer que uma boa parte desse apoio se concretizou já através de investimentos importantes no sistema de ensino.


 

Ø Sem embargo de o esforço público nesta matéria dever prosseguir, espera-se do mundo empresarial que saiba colocar no complexo xadrez da competitividade as suas próprias pedras, aproveitando melhor as qualificações existentes e abrindo-se à requalificação da sua mão de obra. É um risco que, estou certo disso, valerá a pena correr.

 

 

Desafio 2: a questão da solidariedade e da coesão

 

 

Ø No conjunto de indicadores usados em comparações internacionais, e em que, justamente, se assinalam as debilidades do País em matéria de produtividade, é possível encontrar dados que, na perspectiva da repartição da riqueza, nos colocam igualmente em posição desfavorável.

 

Ø Para além de os salários médios serem baixos, verifica-se a existência de elevadas proporções de trabalhadores auferindo salários muito reduzidos.

 

Ø Por outro lado, a distância entre a parcela de rendimento auferida pelos mais ricos e a alcançada pelos mais pobres é, em Portugal, francamente superior à média europeia. Em 2004, o rendimento dos 20% mais ricos era 7,2 vezes superior ao rendimento dos 20% mais pobres; este rácio na UE15 era 4,8 (dados da Eurostat).

 

Ø Não posso deixar de estranhar que, quando se enunciam factores determinantes dos baixos níveis de produtividade do País, se omita tão frequentemente este aspecto.

 

Ø Nessa medida, faço um desafio aos economistas no sentido de esclarecerem os portugueses sobre as implicações económicas do nosso perfil de distribuição de riqueza. Será ele apenas um efeito ou também uma das causas das debilidades do nosso sistema produtivo? 

 

Ø Perante o senso comum e face aos estudos disponíveis, uma coisa parece certa: nas famílias de rendimentos muito baixos, é alta a probabilidade de se gerarem factores de pobreza e exclusão social.

 

Ø Ora, tendo em conta a especificidade da estrutura social portuguesa e a ainda débil consistência do nosso aparelho de protecção social, parece-me indispensável continuar a desenvolver políticas que se destinem a atenuar os efeitos mais penalizadores dessas formas de vulnerabilização.

 

Ø Mas entendo, do mesmo modo, que é necessário actuar a montante com toda a determinação, isto é, através de políticas que os prevejam e previnam, e nomeadamente no núcleo duro das políticas de crescimento económico e de distribuição de rendimentos.


 

Ø Conhece-se a fórmula segundo a qual é necessário compatibilizar, no espaço da União Europeia a que cada vez mais intimamente pertencemos, as exigências da competitividade com as da coesão social.

 

Ø Pois bem: penso que tal fórmula se arrisca a perder conteúdo político efectivo e utilidade prática relevante, se o reduto da distribuição da riqueza a que aqui me referi permanecer imune a reformas que combatam as desigualdades mais evidentes.

 

Ø A meu ver, de facto, no próprio mercado global, as sociedades integradas, coesas e inclusivas – ou seja com um alto grau de justiça social – também apresentam vantagens comparativas no domínio económico. Se dúvidas houvesse, bastaria pensar em casos como o dos países nórdicos.

 


 

Desafio 3: as assimetrias de desenvolvimento regional

 

 

Ø Ainda a este propósito, convém aliás não deixar de aludir a um outro problema não resolvido no Portugal Democrático: o que respeita à persistência de acentuadas assimetrias de desenvolvimento no território nacional.

 

Ø Sabe-se, hoje, que a consagrada dicotomia litoral/interior, continuando embora a expressar em termos globais um velho dualismo que marca negativamente o modelo de desenvolvimento português, já não é inteiramente adequado a dar conta da configuração precisa das referidas assimetrias.


 

Ø Assistiu-se, de facto, nas últimas décadas, à emergência e consolidação de pólos urbanos de média dimensão no interior geográfico do País com o resultado positivo de ter garantido alguma capacidade de inovação e de diversificação das actividades económicas em regiões do País outrora muito confinadas a uma agricultura escassamente modernizada e de baixa produtividade.

 

Ø Mas esta evolução positiva não tem impedido o processo de desvitalização económica e de declínio demográfico de extensas áreas do interior, condicionando o próprio exercício efectivo dos direitos de cidadania por parte das populações do espaço rural profundo.

 

Ø Aliás até o próprio litoral geográfico do País tem gerado no seu seio autênticas e igualmente preocupantes periferias económicas e sociais.

 

Ø Seja em função de tecidos produtivos débeis e pouco diversificados, seja por ausência de acessibilidades condignas, seja por acumulação nas suas populações de problemas de iliteracia e baixas qualificações, seja pela inexistência de um empresariado dinâmico – o certo é que muitos são os espaços locais que se vêem confrontados com autênticos círculos viciosos de subdesenvolvimento.

 

Ø Por mim, não tenho dúvidas em considerar que são grandes as responsabilidades do Estado no combate às desigualdades regionais de desenvolvimento, seja onde for que elas se localizem.


 

Ø Temo contudo que, na ausência de enquadramentos institucionais intermédios entre a administração central e as autarquias, adequados a concretizar no terreno, de forma integrada, as medidas que as circunstâncias exigem, o combate estará perdido ou, pelo menos adiado, para tempo inoportuno, para além de poder levar a desperdícios intoleráveis de recursos nacionais e comunitários.

 

Ø Desenha-se aqui outro problema com que Portugal há muito se confronta, o da descentralização administrativa, que, embora muito importante, não poderei agora desenvolver.

 

 


Desafio 4: Uma política externa forte

 

 

Ø Termino com este ponto algo inusitado neste género de inventários, por ser em geral considerado ora tão consensual que dispensa considerações de maior, ora secundário e por isso de frequente omissão.

 


Ø Ora, na nossa era global, a esfera da afirmação externa do Estados é capital e importa reforçá-la.

 

o  É capital porque os Estados continuam a ser os principais actores da vida internacional e há um número crescente de questões que, sendo de natureza global, são regulados nos quadros do multilateralismo.

 

o  Importa reforçá-la porque, justamente, a internacionalização da economia e de um conjunto significativo de problemas, a consolidação do multilateralismo e o primado do direito internacional impuseram limitações acrescidas à actuação interna dos Estados. Por isso, para reforçar a capacidade e o poder regulador do próprio Estado é imprescindível investir no reforço da sua capacidade internacional, de pesar e de influenciar nas decisões.

 

Ø Para um país como o nosso, com as suas dimensões e posicionamento geo-estratégico, com as responsabilidades resultantes da sua história e com as necessidades derivadas do seu perfil, será determinante apostar numa política externa dinâmica, forte e adaptada às realidades do nosso tempo.

 

Ø Como é bem sabido, com o 25 de Abril operou-se uma mudança profunda na nossa política externa, cujas prioridades se têm mantido constantes.

 

Ø Mais de 30 anos volvidos, importa agora manter a estratégia de política externa afinada pelo diapasão dos novos desafios trazidos pela recomposição da ordem internacional em curso e pela aceleração da globalização.


 

Ø Penso particularmente em cinco aspectos:

 

o  num multilateralismo pró-activo, empenhado na reforma do sistema de relações internacionais, na formulação da sua agenda e na resolução dos problemas de acordo com os princípios da legalidade da ordem internacional;

o  numa participação de primeira linha na União Europeia; num relacionamento bilateral destinado a potenciar a nossa actuação no seio da União Europeia;

o  num relacionamento bilateral empenhado nas acções de promoção e de sustentação das exportações portuguesas e dos investimentos de exterior em Portugal e de Portugal no exterior;

o  na promoção do português como língua global e das culturas lusófonas na sua diversidade.

 


 

Meus amigos

 

Ø A afirmação de um país não se mede só em função da dimensão do território ou do PIB, mas da sua capacidade de se afirmar como parceiro credível, empenhado em contribuir efectivamente e activamente para a resolução dos problemas e para o desenvolvimento de políticas  inovadoras.

 

Ø Para a afirmação externa de Portugal e dos nossos interesses, é fundamental envidar todos os esforços para nos mantermos no “pelotão da frente” e melhorar a nossa imagem. É preciso que o nome de Portugal acrescente valor, que possa ser associado a atitude cooperativa, a participação empenhada, a qualidade e a modernidade.


 

Ø Tal estratégia não pode resumir-se contudo a uma operação de marketing para o exterior. É um processo mais fundo, que nós próprios, como portugueses, temos de assumir e de realizar.

 

Ø Desde logo transformando a visão pouco positiva que muitas vezes temos de nós próprios, assumindo uma atitude mais afirmativa, empreendedora e valorizante.

 

 

 

 

 

Muito obrigada pela vossa atenção.

 

 

Global Responsibilities in investing in the healthcare workforce

November 1, 2006

ADDRESS BY

Mr. JORGE SAMPAIO,
THE UNITED NATIONS SECRETARY-GENERAL’S
SPECIAL ENVOY TO STOP TB,
FORMER PRESIDENT OF THE PORTUGUESE REPUBLIC,

AT THE 37th UNION WORLD CONFERENCE
ON LUNG HEALTH
OF THE INTERNATIONAL UNION
AGAINST TB AND LUNG DISEASE

Global Responsibilities in investing in the healthcare workforce
for sustainable health

Paris
1st November 2006

Dr Asma Elsony, President of the International Union Against TB and Lung Disease (IUATLD)
Dr Nils Billo, Executive Director of the Delegates of the IUATLD
Ladies and Gentlemen
Dear Friends

First of all, I would like to say some words praising the miracles of technology. I felt very sorry when I realised that I couldn’t be with you on this very special occasion due, to an unexpected retinal detachment surgery preventing me from flying to Paris. But eventually I am most happy to have the opportunity to address the Conference and to be somehow present, thanks to the fantastic means of on-line communication!

Let me now underline that I was extremely pleased to accept the kind invitation to take part in the opening session of the current 37th edition of The Union annual international Conference.

May I greet this huge audience made up by tuberculosis and lung health experts, health policy makers, TB and HIV managers, healthcare professionals, patient advocates and activists from around the world ?

I was very much looking forward to meeting you and to introducing myself. As you might know the United Nations Secretary-General, Mr. Kofi Annan, has appointed me as his first Special Envoy to Stop Tuberculosis. It is indeed in this capacity that I am here today.
Above all, my role as Special Envoy to Stop TB, as I see it, aims at helping in achieving the Millennium Development Goal (MDG) target to “have halted and begun to reverse the incidence of TB by 2015” as well as The Stop TB Partnership’s 2015 targets – to halve prevalence and death rates from the 1990 baseline.
It is why I consider that my action has to focus on giving additional political visibility to this sometimes neglected disease; on helping generating public awareness about TB; and on continuing persuading world leaders to play their part in fully funding and implementing the Global Plan to Stop TB (2006-2015).

Meus amigos, afinal não nos devemos nunca esquecer: a TB é uma emergência, continua a matar 1.7 milhões de pessoas por ano, ou seja 5.000 homens, mulheres e crianças diariamente e, no entanto, estamos a falar de uma doença curável. Como recusar ser porta-voz desta pandemia e lutar contra esta vergonha civilizacional ?

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Let me now share some thoughts with you on the subject I was asked to address here today: “Global Responsibilities in investing in the healthcare workforce for sustainable health”

I shall divide my presentation into three main parts:
I will begin by outlining the progress made in assuming global responsibilities in global health, particularly in the global fight against infectious diseases like HIV-AIDS, Malaria and TB during the last years;
Secondly, I will examine the problem of the health care workforce, particularly in low income and high burden disease countries;
Thirdly, I would like to focus on which strategies could better ensure a sustainable health policy regarding its human component in order to meet MDG and Partnership’s targets to stop TB .

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First point: progress made in assuming global responsibilities in health – a major achievement: health is in the global agenda

I think everybody could agree that today health issues are clearly on the global development agenda and they are seen as an ever more global public good. These are the good news.

In the increasingly globalized world, marked by migrations and fast movements of persons at a worldwide scale, public health issues indeed call for domestic policies but require also international measures and a regional integrated approach as events overseas affect each country’s health. Communicable diseases are a most obvious example of these externality aspects of public health. That is, no single country can alone prevent or contain communicable diseases in order to protect the health of its population.

This increasing awareness of cross-border and global issues in health is clearly expressed in the growing attention paid to health by non health sector bodies, such as the World Bank, the United Nations or the G8, as well as by the private, corporate and charity sectors.
Let me recall a few examples:

– First of all, in January this year, President Obasanjo of Nigeria, Mr. Bill Gates and Mr. Gordon Brown, UK Chancellor of the Exchequer, launched the Stop TB Partnership’s Global Plan to Stop TB, 2006-2015. At that time, Mr. Gates pledged $900 million more for TB research and development efforts so essential for TB elimination.

– In July, the G-8 Summit, held in St Petersburg, included in its agenda, among key global issues such as energy security and education, the fight against infectious diseases including tuberculosis. G8 leaders committed to further support for the Global Fund to fight AIDS, TB and Malaria and to mobilize resources to fully fund the Global Plan to Stop TB. As you remember, last year, at Gleneagles Summit, the G8 had already pledged to help meet the needs to respond to the TB epidemic in Africa.

– The European Union is playing a leading role not only in being the second biggest donor to The Global Fund but also in planning to go further with an ambitious proposal to set up a 3 billion euros fund to promote good governance in Africa.

– The International Community is committed to developing innovative financing mechanisms such as the International Finance Facility and the UNITAID, which as you know, is an International Drug Purchase Facility being established by France, Brazil, Chile, Norway and the United Kingdom funded by an international air-ticket solidarity levy.

– Last May, the Global Business Coalition Initiative, led by Mr. R. Holbrooke announced that it will include TB among its critical issues for action;

– Last but not least, at the UN Millennium Summit (2000), among the eight global goals adopted by the entire global community – rich and poor countries together – health has been given maybe for the first time particular attention.

I do think that these examples are obvious indicators of health moving up the global agenda and thus being considered part of a minimum for a decent world.

In my view, at the international level, there is a clearer political commitment, a stronger public awareness and more resources available. These favourable conditions give renewed impetus to the fight against infectious diseases, but also create added responsibilities in view of producing better results.

Our shared aim, our common commitment and our motto has to be “to do more, to do faster and to do better”.

“More, fast and better” since emergencies, like TB, cannot wait.

Second point: the critical problem of the health care workforce, particularly in low income and high burden disease countries

Let’s start by taking two examples: TB and African region.
Firstly, as you all well know, but probably not the average person, TB is a preventable, curable and affordable disease. The medicines that cure TB cost about ten dollars per case of illness.
Secondly, let me remind you that the African Region has the highest TB burden per capita. Although with only 11% of the world’s population, Africa contributes approximately with 25% of TB cases. In 2004, about 2.3 million people fell ill with TB in the African region, where TB incidence is rising at over 4% a year fuelled by the HIV epidemic. Thirty-four of the 46 member States in the region face an estimated TB prevalence rate of 300 per 100,000 people and 9 countries are among the 22 Global TB high burden countries.
Now where is my point ?
Apparently TB could be thought of as a not too difficult global health problem as it is preventable, curable and affordable disease. But, in reality, it is a quite complex one. Why ?
Mainly because of the lack of infrastructures, apart indeed from all the problems related to poverty, malnutrition, sanitation, shared by all developing countries.
By infrastructures I mean physical, institutional and human components of the health care system. Because of infrastructure gaps millions of people dye everyday.
Now let me concentrate in the human resources component, the blood of the all health care system.
Of course there is a severe shortage of physicians, nurses, health care workers in many places around the world.
I have to underline that the crisis in human resources for health is one of the greatest challenges in TB control and for the Millennium Development Goals in general. To overcome this gulf, action is dramatically needed across all levels of the health system, all programs, partnerships and global stakeholders.
Allow me to tell you a story. I had the opportunity to attend a WHO African Regional Committee, last August, in Addis Ababa where I met several African Ministers of Health on a bilateral basis. If I had to summarize shared remarks, I would say that they all pointed out the lack of human resources at all levels as a major if not the main problem. In this regard, I remember particularly how a Minister coming from a big country put it bluntly, asking me if I knew that there are more doctors in big size hospital in Lisbon then in all his country twice populated than Portugal and 10 times bigger !
Moreover they all complained about lack of appropriate training and asked for help in this regard. All mentioned difficulties in recruitment and retention because of the disincentives of the work environment. All complained about “brain drain” that draws away health professionals.
I recall this personal experience because, in my view, it gives a quite accurate picture of the global health workforce crisis going on particularly in low-income, high disease burden countries. As you probably know the shortage is about 4.3 million health care workers of all sorts.
But in Africa this problem is much more acute as, while they have about 25% percent of global disease burden, only 1.3 percent of the world’s health care workers actually work there.
These figures show pretty well how the global burden and resources are unequally distributed with huge asymmetries, disparities and inequalities within the countries themselves, between urban and rural areas, as existing resources tend to be clustered in urban areas. These are the bad news.
Now I would like to end this point with good news. And the good news are success stories about ways of overcoming concrete problems. In this respect, I will briefly recall the Ethiopian experience in training primary health care people.
Firstly, Ethiopian policy makers have identified the main areas of action – actually, four main areas: maternal health, child health, HIV-AIDS-TB and malaria. Secondly, they decided that the best solution to address these four problems was to focus on primary health care particularly in rural areas. The next step was to identify the workforce that could really help with primary health care – and they decided that it was low level and mid level health extension workers. After, they decided to train as many as possible health extension workers – and, surprising and stimulating thing, they were able to train 9.900 persons in two years and deployed them within a plan that intends to achieve the total amount of 30.000 trained health workers in the next two years.
How they could produce such results in a such brief time ? According to my knowledge, by implementing an ambitious but realistic strategy, based on the use of existing assets – for instance, instead of start building nursing schools, they use existing technical and vocational training centres, so that it was like a shortcut. Instead of building down, they build up, they invest in outcomes of infrastructure in tangible ways, banking on increasing the horizontal caring capacity of the health system. They based their strategy on the will of individual communities to develop a sense of ownership over their own infrastructure, on engaging people in achieving improvements in order to guarantee the sustainability of health systems.
I think all of us can learn from the Ethiopian lessons. Of course there is a huge difference between our developed countries and countries in Africa, Asia or South America as well as between countries within these regions. But solving global health problems means sharing experiences and designing and implementing common strategies to better overcome gaps and challenges.

Third point: Strategies that could better ensure a sustainable health policy regarding its human component

In order to meet Millennium Development Goals (MDGs) and Stop TB Partnership targets there is indeed a critical need to strengthen the workforce to improve global lung health.

Let me start by stressing that the Global Plan to Stop TB (2006-2015) outlines increasing human resources capacity as a priority TB control activity in the next 10 years. There is over US$30 billion funding gap for the Global Plan, and a strong need for increased funding of global TB control globally in Europe as well as in Africa.

But tackling the human resource crisis goes beyond TB control alone.
Three points have to be emphasized.

Firstly, it requires the implementation of human resource development strategies in the public health sector, e.g. more attractive career and salary structures, improved training as well as the establishment of partnerships with communities and all health care providers, in order to use and engage all available human resources. These strategies are designed to achieve the goals set up by public authorities.

Allow me to clearly emphasize that in my personal view equal access to health for all is a matter of human rights and only Governments offer rights. By this I mean that there has to be national health infrastructures so that we can make sure that poor people have rights. So an overall Human Resources Strategy in health sector has to be designed by Governments, who are responsible for it.

This is to say that private and corporate sector, NGOs, charities, associations and foundations have indeed an important part to play in the health field, but their action has to be regulated mostly by public powers.

Secondly, it requires the reinforcement of international action on health education and training.

Health education remains for me a critical point because it is the basis of everything, a way of empowering people in preventing health problems. Education for health is, in a way, much more fundamental than treating diseases…

Regarding training, needless to stress that it is essential to better coordinate international actions and initiatives in order to avoid overlaps and gaps and to ensure that they meet real needs of people. In this respect, I do think that national health authorities and national health policy makers have the most important role to play not only to strengthen the feeling of ownership but also to ensure long term sustainability of the efforts and results.

Foreign aid and help need to be well coordinated with national plans and policies in order to rain the right health workers. Most high burden disease countries need most urgently primary health care workers.

Thirdly, it requires a broad multilateral framework on migrations and for the cross movement of people avoiding brain drain from poor to rich countries.
As is well known, this problem is particularly acute in essential social services such as education and health. While domestic policies to increase the incentives and opportunities for skilled labor to remain at home are an important part of the solution, it has also been suggested that the industrialized countries should coordinate their hiring policies with developing countries facing such skill shortages in essential services.
Measures to stimulate a process of “skills circulation” (like training, tax incentives to stimulate return of skilled migrants to their home countries etc) could be considered because they would benefit both industrialized and developing countries. The former could still continue to hire skilled labor from developing countries. The latter could also benefit from this circulation without being deprived of the very category of workers that they need most and without suffering the loss from the investment in training.
The adoption of a kind of Code of good practices for health care workers migration could be a useful tool to prevent a permanent brain drain from poor to rich countries and to stimulate the return of skill migrant to their home countries.

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Dear Friends

Some final remarks to conclude.
As United Nations Secretary-General’s Special Envoy to Stop TB, I am committed to developing new ways of supporting the fight against TB.
To ensure my role is productive, I’ll indeed be working closely with WHO and the Stop TB partnership, which are leading the fight against TB. But I will not neglect regular and direct contacts neither with national and local authorities, private or public partners, nor with the civil society, non governmental organizations, and individuals working together to ultimately achieve a world free of TB. And, in this regard, your own input, Dear Friends, is invaluable.
You can count on my committed efforts to increase advocacy to focus United Nations attention to TB control in general, and TB control in the context of the universal access principle.

I will spare nothing to continue advocating for additional resources mobilization for TB control and to reinforce international and national commitments for TB control and ensure that money flows down to those in great need.

In the last years, much progress has been achieved in placing health issues at the top of the international development agenda, particularly concerning the importance of the fight against infectious diseases and diseases of poverty like TB. But, indeed, to overcome the huge global challenges we are faced with in order to achieve the MDG and the Stop TB Partnership’ s targets, there is still much to do.
There is a need for enhanced collaboration, to bring all actors in the TB control field together to make a cohesive effort in the fight against TB. There is also the need for a strong TB movement to answer the TB crisis, equivalent to that for AIDS. The International AIDS Society (IAS) is the world’s leading independent association of HIV/AIDS professionals. A similar movement for TB is needed, I feel! Count on me to support your efforts in order to reinforce The Union, a way of calling on strength through unity!

Thank you very much.